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 ENTRE O ABISMO & A  ESPERANÇA 

Belgna, Tatiana e Andreia se encontram no eixo da vulnerabilidade diante da pandemia da Covid-19. No meio de tanta dificuldade, o vírus é mais um obstáculo no caminho da luta diária. 

Audiodescrição - Reportagem
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Envolta da pobreza e da ausência de direitos básicos como saúde, moradia e alimentação, os moradores de diferentes regiões periféricas do país entrevistados nesta reportagem carregam muita esperança de melhorias em suas comunidades. | Foto: Davi Vittorazzi

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No Norte do país, a falta de assistência na alimentação afeta famílias do local onde Belgna mora. Na região Nordeste, o acesso à moradia com condições básicas é ausente na vida de Tatiane Maria. Já no Centro-Oeste, o acesso ao sistema de saúde é difícil até para os grupos prioritários, como é o caso da Andreia. A situação de desigualdade foi intensificada com a chegada da pandemia de Covid-19, especialmente para as populações negras e periféricas.

 

Diante disso, a população negra que convive com a omissão governamental ainda precisa se desdobrar em busca dos mínimos recursos para sobreviver. Mesmo antes da pandemia, essa população já era maioria no trabalho informal, seja como ambulantes ou diaristas. A pandemia de coronavírus expôs mais essa mazela da população brasileira, que em sua maioria não tem o básico, e o que era básico se tornou urgente.

No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, realizada no 2º trimestre de 2020, mais da metade da população brasileira, 56,10%, se autodeclara negra. Do total de 209,2 milhões de pessoas que vivem no país, 19,2 milhões se assumem como pretas, enquanto 89,7 milhões se identificam como pardas.


Ainda de acordo com o órgão, dados de 2018 identificaram que as diferenças raciais também estão presentes nas condições de moradia, veja no gráfico abaixo.

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Gráfico 1. As diferenças entre a população negra e branca também se refletem no atendimento de serviços básicos para a moradia. 

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Essas e outras condições de vulnerabilidade, como a atuação em ofícios que geram exposição ao vírus, fizeram com que a população negra fosse a mais afetada pela pandemia de Covid-19. Dados da Fundação Oswaldo Cruz indicam que o vírus se disseminou mais nessa população. Na Semana Epidemiológica 15, de 4 a 10 de abril, os brancos representavam 73% das internações e 62,9% dos óbitos. Aproximadamente um mês e meio depois, na Semana 21, os dados mostraram proporções semelhantes de brancos e negros hospitalizados. Porém, a população negra passou a representar 57% das mortes, enquanto a branca representou 41%. 

No Rio de Janeiro, a primeira vítima fatal da Covid foi uma doméstica. Ela havia contraído a doença de sua patroa, que voltou do exterior contaminada e não a avisou do risco de contágio. A liderança da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ, do Rio de Janeiro, afirmou que as patroas forçaram domésticas quilombolas a trabalhar, o que levou às contaminações. Nos quilombos do estado, o coronavírus matou um por dia. 

A baixa produção jornalística local em regiões fora do eixo Rio-São Paulo dificulta o conhecimento das diferentes realidades da população brasileira, especialmente negra, no enfrentamento à Covid. De acordo com o Atlas da Notícia de 2019, dos 1.794 municípios da região Nordeste, 1318 (73,5%) são desertos de notícia, ou seja, regiões em que não existem veículos locais de jornalismo. Já na região Norte, 323 de 450 municípios não apresentam produção local de notícias, o que representa um percentual de 71,8%. O Centro-Oeste se sai melhor, especialmente por conta dos estados Mato Grosso e Goiás, e 39,2% dos municípios não produzem jornalismo. Sudeste e Sul, respectivamente, apresentam 60,6% e 54,8% dos municípios como desertos de notícia.

Com isso, os repórteres da 12ª edição do Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão -  promovido pelo Instituto Vladimir Herzog em parceria com Oboré, Abraji, Intercom, apoio da produtora independente Periferia em Movimento e com financiamento do Google - se debruçaram nas histórias de enfrentamento da pandemia de Covid-19 de pessoas negras, pretas e pardas, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Foto: Belgna, moradora de Taquaralto

“Não recebemos ajuda de ninguém”, afirma senhora, de 59 anos, sobre a ausência de políticas voltadas para alimentação durante a pandemia no Tocantins, Norte do Brasil

Moradora do bairro Taquaralto - setor Bela Vista -, em Palmas, Belgna Ribeiro Ramos é uma mulher negra de 59 anos que vive com seus pais. Segundo Belgna, mesmo com algumas restrições provocadas pelo isolamento social, o cenário que veste as ruas da periferia de sua cidade diante da crise da pandemia tem possibilitado um combate mais eficaz à Covid-19 e acesso mais amplo à saúde.

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Depois de muito tempo sem saneamento, os moradores Taquaralto enfrentam outros problemas, como assistência à alimentação em meio a pandemia   | Foto: Belgna Ribeiro

A precariedade e a pobreza que outrora eram uma realidade coletiva de Taquaralto, foram fatores amenizados há um ano atrás com a realização das construções de saneamento no local. Belgna relata que os anos anteriores à obra – e aos demais investimentos – foram muito difíceis e que a população do bairro tinha o acesso à saúde negligenciado. Para ela, a corrosão desses direitos básicos só teve um “fim” por causa da luta do povo, que teceu durante anos o cenário de um local abandonado pelo Estado.

A cerca de duas quadras da sua casa, os habitantes ainda não têm toda essa infraestrutura. Mas, apesar disso, a maioria é atendida pelas melhorias relacionadas a outras esferas, como a própria saúde, por exemplo.

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Os postos funcionam direito. Temos acesso a consultas e também tem um médico quando há emergência. Eu e meu pai pegamos coronavírus. Foi tudo bem rápido. O atendimento foi bom. Chegamos no posto aqui perto de casa e passamos por uma triagem. Tive que ser internada, o que aconteceu também sem espera e problema.”

Como Belgna e o pai, 785.605 pessoas da região Norte foram infectadas com o vírus, dessas 16.964 vieram a óbito. Já no Tocantins, 83.300 pessoas pegaram Covid e 1.179 faleceram em decorrência do vírus, até 5 de dezembro.

 

A cidade de Palmas, capital do Tocantins, possui uma população de pouco mais de 210 mil pessoas, dessas 18.912 testaram positivo para coronavírus. Quase 8% (1.483) dos infectados  estão na periferia -onde Taquaralto está incluso-, o que é um número consideravelmente baixo para a região mais populosa da capital. Contudo, independente da zona da cidade que se avalie, a população negra é uma das mais afetadas pela doença. Até mesmo em bairros de maioria branca, o percentual de negros atingidos pela pandemia é maior. Também é assim quando o assunto é a desigualdade socioespacial, já que existe alta concentração da população negra na periferia de Palmas.

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O gráfico mostra a população negra em maioria na região periférica da cidade de Palmas

Mesmo com melhorias pontuais em Taquaralto, como as citadas por Belgna, o saneamento básico do município é marcado pelo racismo. De acordo com o último levantamento do Painel Saneamento Brasil (2018), a população negra de Palmas é a mais afetada por essa carência. O levantamento evidenciou que os negros têm 11% a mais de sua população sem acesso à água, quando comparada aos brancos, por exemplo. 

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A população negra segue em maioria no descaso ao saneamento básico. | Infográfico: Painel Saneamento Brasil

Se por um lado houve a democratização do atendimento médico, o mesmo não ocorreu quando o assunto foi uma condição básica, a alimentação. Apesar de avanços em alguns setores, a dificuldade financeira continua visitando as periferias da capital, realidade que, de acordo com Belgna, não mudou durante a pandemia. Pelo contrário, as pessoas não tiveram suporte diante de um momento tão delicado. A senhora contou que, com a chegada do vírus na cidade, todos pararam de trabalhar e isso gerou muita dificuldade entre as famílias. 

 

Ela e seus pais vivem das duas aposentadorias que os idosos ganham. Porém, a senhora conta que a garantia de uma aposentadoria não é realidade de todos os moradores. Assim como muitas famílias, suas duas irmãs também passaram por apertos durante a pandemia de Covid-19. Nesse caso, ela afirmou que não houve uma organização dos moradores para contornar a crise financeira.

 

“A associação de moradores já foi bem ativa, mas hoje não funciona mais. Aqui não teve doações de cestas básicas para moradores por parte de nenhuma organização. Não recebemos cestas básicas da prefeitura e as crianças da escola pública receberam kit merenda -- que continham alimentos perecíveis e não perecíveis”.

“Nunca teve essa regalia de remédios pra gente. As coisas que a gente precisa nunca teve”, desabafa idosa moradora

da periferia de Cuiabá

Em uma situação muito semelhante a do Norte, a região Centro-Oeste tem 786.527 casos confirmados e 16.409 óbitos, dados de 5 de dezembro da Secretaria de Saúde de Mato Grosso. Ali vivem a Dona Andréia de Matos, 64 anos, e o marido José Alves, 68, ambos migrantes que residem no Mato Grosso há mais de 20 anos –  ele um homem negro e ela uma mulher branca. O casal de idosos mora no Bairro Dr. Fábio, periferia da capital Cuiabá, um local sublinhado pela presença da miséria e pouca participação do Estado. 

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Andreia e José são migrantes que vieram para Mato Grosso a trabalho e ali permanecem há mais de 20 anos. | Foto: Davi Vittorazzi

Com a chegada da pandemia, a disparidade social que assola a região ganhou ainda mais força. Dona Andréia e seu José não trabalham por causa de problemas de saúde, os dois se sustentam com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) oferecido pelo INSS para pessoas que não podem mais trabalhar por conta de doenças, valor que corresponde a um salário mínimo, ou seja, 1.045,00 reais.

 

Diferentemente da realidade de Taquaralto, onde Belgna e sua família possuem um bom atendimento médico; no solo cuiabano, a família não tem o que para eles seria uma vitória: o acesso completo à saúde. 

 

O bairro Dr. Fábio conta apenas com um posto de saúde e uma unidade do CRAS. Segundo a Prefeitura, o Centro de Assistência entregou 60 cestas básicas por mês na região. Mas, quanto à saúde, Andréia desabafa: “O posto não tem nada, nada, nada! Sempre foi assim, aqui no Dr. Fábio nunca teve essa regalia de remédios pra gente. As coisas que a gente precisa nunca teve”. Ela e o marido possuem doenças sérias que envolvem desde problemas nos ossos até pressão alta.

As condições de saúde e moradia para Dona AndreiaCENTRO OESTE
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O casal relata ter sentido medo do vírus, já que a doença atingiu três dos seus parentes, levando um deles a óbito. Na rotina deles, pouco mudou com o isolamento social, já que os dois já ficavam a maior parte do tempo em casa, saindo apenas para utilidade de saúde, mercado e, por fim, a igreja que frequentam.

 

Michele Sato, pesquisadora e coordenadora do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), elaborou, junto ao grupo, o livro de pesquisa “Os condenados da pandemia”, que analisou 22 grupos sociais em situação de vulnerabilidade agravada pela Covid-19. O livro conclui que os mais afetados pelo vírus e seus reflexos são os cidadãos que habitam regiões socioeconômicas desfavorecidas.

Pesquisadora Michele Sato fala sobre quem mais sofre na pandemiaCENTRO OESTE
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De acordo com Sato, a situação de vulnerabilidade dos mais pobres é ainda mais agravada na pandemia por envolver a saúde que não atende de modo eficaz toda a população. “Temos o SUS (Sistema Único de Saúde), mas sem ele poderia ser pior. Precisamos de uma política de inclusão urgente neste país, porque os direitos humanos dessas pessoas estão sendo violados constantemente”, destaca.

Os dados fornecidos pelo Portal de Transparência da Prefeitura de Cuiabá informam que a população preta e parda corresponde a 71,5% dos infectados pelo novo coronavírus em Cuiabá. Assim é também no Bairro Dr. Fábio, onde os dois podem assistir mais de perto esse sofrimento. O local apresenta 270 casos confirmados, dos quais 64,4% refere-se a população parda, 14% à população branca e 8,8% à população preta.

Racismo ambiental e desigualdadeCENTRO OESTE
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A luta diária, pincelada pela simplicidade e companheirismo, são protagonistas da relação da história do casal. Apesar das violações de direitos constantes, Andreia e José se alicerçam um ao outro para viver a cada dia.

Para tentar subverter essa situação dramática, a pesquisadora Michele Sato pontua que a mobilização social pode gerar impactos bem mais efetivos do que as ações individuais.

Engajamento socialCENTRO OESTE
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Atendimento médico não chega até a região periférica

de João Pessoa, na Paraíba

"Pra falar a verdade eu tive medo por conta que… é uma doença muito… um vírus muito… que o povo comentando, era perigoso", desabafou Tatiana Maria, mãe de seis filhos e moradora da comunidade de Nova Jerusalém, região periférica de João Pessoa, no bairro de Gramame, Paraíba. 

João Pessoa é uma capital litorânea de praias bastante frequentadas, com população estimada em 817.511 habitantes – dos quais 50,1% da população é negra. Segundo dados do IBGE, conta com índice de isolamento de 47,3% . Dos 37.895 casos confirmados até o momento, 1.089 vieram a óbito por Coronavírus, conforme divulgado no último boletim do dia 5 de dezembro , no Painel Covid - 19, disponibilizado no site da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Esse número faz parte de um total de 1.682.475 pessoas que contraíram o Covid no Nordeste e 45.045  morreram em função da doença.

Tatiana, assim como os que estão presentes naquela realidade, convivem com informações esparsas sobre o vírus. Porém, ela tem noção dos perigos e da possibilidade de  contágio aumentada com a contínua exposição fora dos limites da pequena comunidade. Lembrou-se do esposo que precisa trabalhar e o faz através de viagens para diversas regiões. Porém, também está envolta em uma apatia que se expressa diante da pobreza a qual está inserida e enfrenta não apenas no dia a dia, mas cara a cara.  

Barracos que mal se sustentam em pé, com lonas entrecortadas por objetos e com sorte algum ponto com alvenaria. Colchões também compõem o ambiente de improviso. Há um vaso sanitário, mas não é visto encanamento. Tudo ali se alterna e contrasta: aparelho de som e TV com objetos pessoais em varal ou malas. Sujeira tanto dentro como fora da cômoda e o pequeno Victor Gabriel, de oito anos, que se entretém.

Há uma ausência de planos sanitários para as famílias da ocupação, área descoberta pela Secretaria da Saúde. Os cidadãos são privados  dos direitos básicos como visitas de agentes de saúde, tratamentos clínicos básicos e assistência em unidades básicas de saúde familiar. Se houver necessidades físicas extremas de cuidados médicos, devem ser levados diretamente a hospitais e pronto socorros. Enquanto cuidados psicológicos só podem ser acolhidos pelo Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) da região quando se encontram em estado avançado e emergente de algum distúrbio mental, conforme contou o coordenador do centro de referência, Pedro Augusto.

 

A fragilidade da estrutura também remete a uma questão básica e não menos importante: a segurança. Tatiana não sabe o que a mais preocupa ou a quem atribuir responsabilidades pelo que a cerca, "aqui a gente não tem segurança nenhuma. Contra o Estado e o crime também. A gente tá aqui nos barraco, você sabe que a gente não tem segurança. Que a qualquer momento se alguém quiser invadir, se não passar por uma lona, passa. E a gente se sente muito inseguro aqui". Covid seria o de menos naquele ambiente? Não o de menos, apenas mais um agravante ao que já está no limite do humano.

 

Pedro Augusto, coordenador do centro da região de Gramame, há 2 anos, fala sobre as medidas tomadas para que sejam amenizados os fatores de risco da região. Cita os auxílios governamentais que são destinados às famílias, tais como maternidade, alimentação e funeral. Em um local que atualmente abriga 121 famílias (95% de cor negra segundo o CRAS) a cooperação é característica. A organização da comunidade acontece entre os próprios moradores; e a delimitação de prioridades se dá a partir das  deficiências e carências de cada núcleo familiar, quanto à alimentação, estrutura do barraco ou questões fisiológicas. É tudo tão pungente e urgente que não há como não questionar Pedro a respeito de mudanças concretas não serem articuladas pelo poder público.Ele afirma que, por hora, as informações são de que conjuntos habitacionais estão sendo construídos e, logo mais, todos estarão em um novo local. Tudo muito lento, pois há pouco tempo, em 15 de maio deste ano, a região sofreu com as chuvas que geraram alagamento e perdas, tudo dividindo espaço com a Covid.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os moradores estimam que cerca de 90% das crianças que ali residem não possuem vacinação em dias e os que nasceram no local nunca foram vacinados. Perguntado sobre a situação da abrangência da saúde na ocupação, o coordenador do CRAS, respondeu que a instituição tentou resolver a situação, mas a Secretaria de Saúde fez pouco caso e não se mobilizou.

 

Nova Jerusalém, para os cristãos, remete a um local bíblico. Designações assim são um lampejo de fé e esperança, mesmo que sua significação esbarre em um vazio. Independente de crenças, o direito de possuir um lugar para chamar de lar e que contenha o mínimo para sua existência é de todos, mesmo que esses “todos” não sejam considerados pelo Estado como seres dignos de cuidados, seja pela cor negra, pela falta de renda ou pela pouca escolaridade. Independente de tudo isso, continua sendo dever estatal assegurar condições básicas para a sobrevivência.

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Moradias improvisadas e vulneráveis compõem o dia a dia de Tatiane e sua família.  Foto: Euclides Costa

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